quinta-feira

Vendas de genéricos têm maior expansão desde 2012

As vendas de medicamentos genéricos nas farmácias brasileiras saltaram 18,7% no primeiro trimestre deste ano, para 270 milhões de unidades, com a maior taxa de expansão registrada para o intervalo desde 2012. A crise econômica, a antecipação de compras diante do reajuste de 12% autorizado pelo governo a partir de abril e uma agressiva política de descontos ajudam a explicar esse desempenho, que chamou a atenção da própria indústria por causa de sua magnitude.

Historicamente, em outros períodos de crise, como em 2009, as vendas de genéricos acabaram impulsionadas pela substituição por parte dos consumidores dos medicamentos de marca, que são mais caros, por esses produtos. Esse movimento, na avaliação da presidente­-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), Telma Salles, pode ter se repetido no início deste ano. "Em momentos de dificuldade da economia, o genérico absorve mais consumidores", afirma.

Ao mesmo tempo, o aumento de até 12,5% no preço dos medicamentos autorizado pelo governo federal, com aplicação a partir de abril, pode ter levado a um esforço maior de antecipação de compras. Essa foi a primeira vez, em mais de dez anos, que o índice máximo de reajuste para medicamentos ficou acima da inflação, o que teria potencializado a corrida por compras antes da entrada em vigor do aumento.

Apenas em março, segundo dados da consultoria IMS Health, complicados pela PróGenéricos, as vendas de genéricos somaram 107,5 milhões de unidades, acima da média registrada em janeiro e em fevereiro, de 81,5 milhões e 81 milhões, respectivamente.

Esse efeito foi percebido no mercado farmacêutico como um todo, diz o presidente ­executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, para quem a "vida real para a indústria farmacêutica" vai acontecer a partir de maio". "Todos sabiam que haveria reposição de perdas via reajuste e que o deste ano seria maior, porque a fórmula [de cálculo do índice] é amplamente conhecida", diz.

A partir do mês que vem, porém, quando o reajuste já estará incorporado à cadeia de medicamentos, o setor vai começar a sentir os efeitos do aumento do desemprego e é provável que as taxas de expansão exibidas neste início de ano não se repitam. "Pela primeira vez nos últimos dez anos, o crescimento [das vendas em reais] deve ser menor do que a inflação", opina Mussolini. No ano passado, a alta foi de 12%.

No segmento de genéricos, a postura também é de cautela em relação a projeções para o acumulado de 2016. "Não dá para saber como a economia deverá se comportar diante dos desafios políticos que o Brasil precisa equacionar", diz Telma, lembrando que as vendas de genéricos registraram queda de 0,4% na comparação de fevereiro com janeiro. Segundo a executiva, não está descartada a possibilidade de o segmento realizar pela primeira vez na história um resultado abaixo da casa dos dois dígitos.

Com o forte desempenho do primeiro trimestre, os genéricos mais uma vez alavancaram o volume total de vendas de medicamentos no país. De janeiro a março, o mercado farmacêutico total cresceu 9,6% em volume, para 890,1 milhões de unidades, enquanto em receitas, já considerados os descontos praticados, a expansão foi de 10,8%, para R$ 11,3 bilhões. "Ao excluirmos os genéricos do resultado da indústria, o crescimento fica na casa dos 6%", diz Telma.

A percepção de que laboratórios podem ter lançado mão de uma política de descontos mais agressiva no primeiro trimestre é alimentada pelo baixo crescimento das vendas em reais desse tipo de medicamento. De janeiro a março, o crescimento por esse critério foi de 9,52%, para R$ 1,5 bilhão, incluídos todos os descontos praticados, inferior aos 18,7% de expansão em unidades comercializadas e aos 10,7% do total.

Segundo fontes da indústria, alguns laboratórios teriam intensificado promoções ao longo do trimestre, com vistas a manter ou ampliar participação no mercado de genéricos. No topo do ranking do segmento estão a Hypermarcas, a EMS e a Medley (da Sanofi). Sobre essa política, a presidente­ executiva da PróGenéricos afirma que, tradicionalmente, o varejo concede descontos significativos ao consumidor e lembra que as margens de lucro dos laboratórios seguem em retração, pressionadas por aumentos de custo e pelo câmbio.

Fonte: Valor Econômico

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